sábado, 29 de maio de 2010

UM DIA DE VIDA

   Que fazer se nos resta apenas um dia de vida? Vinte e quatro horas. Nenhum minuto ou segundo a mais. Um dia inteiro, com nascer e pôr do Sol incluídos. Anoitecer e amanhecer. Um ciclo completo. Que fazer? Sentar na beira da cama e chorar? Lamentar o tempo desperdiçado? Amaldiçoar a vingança não executada ou o bem não praticado? Lamentar a vida não vivida, os amores perdidos, a mulher não amada, o amor não correspondido, a cerveja não bebida, a vida ferida, fodida ou parida?
   Luz e sangue. A opressão no peito, a procura pelo ar que não mais existe. Um hausto de ar, mais um, mais luz, Goethe*. Os valores não valem mais nada. Moral, ética, dólar, cotação da bolsa, estética. A morte é a falta de estética da vida.
    Lutei tanto, sofri tanto, trepei tanto, e não senti no entanto, o tanto de prazer que me daria um dia. Um dia a mais. Só unzinho. Por todos os deuses, eu mereço. Mas, o que há? Perdi o dom da fala ou os deuses ficaram surdos? Ou terão sido sempre surdos? Angústia hamletiana, que só faria sentido se houvesse resposta. Mas não há respostas. Só perguntas. O tempo passou e com ele a vida. E eu não percebi.
   É essa a tragédia. Todos nós temos o nosso último dia de vida. E tal qual a vida toda, não temos a mínima ideia do que fazer com ele.

* Goethe teria dito ao morrer: “Mais luz, mais luz”...

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