FORD FAMILIAR | ||
Diante de tantas notícias que assombraram as montadoras americanas, nos últimos tempos, intensificados pela crise financeira e pelo desenvolvimento sustentável, nos acostumamos a não perceber os seus pontos fortes, as suas vantagens competitivas e as suas competências essenciais. O melhor caso que reúne a prática destes três pilares é a americana Ford. O fundador desta empresa familiar, Henry Ford é considerado por diversas publicações especializadas o maior executivo do século XX (algumas escolheram Jack Welch, ex-presidente da General Electric). Foi o gestor que melhor aplicou a técnica do Estudo dos Tempos e Movimentos, tornando-se o grande responsável por mudanças de paradigmas e pela redefinição dos sistemas de produção em diversas indústrias da época e, passou a ser a referência para diversos trabalhadores que perceberam as vantagens de se trabalhar em uma empresa metódica e repetitiva, e com os maiores salários até então, mesmo que tivessem diante de si, um patrão cruel e disciplinado. Algumas das diversas características do Fordismo, que é muito estudado em vários Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado), ainda são praticadas e presenciadas, facilmente, em pleno século XXI, em diversas organizações, desde setores mais novos de alta tecnologia, passando por biotecnologia até segmentos mais tradicionais, como os de manufatura. Ao longo de décadas a Ford passou por momentos turbulentos. A forte concorrência com a líder no mercado americano, General Motors, e posteriormente com a nova detentora do posto, Toyota, os altos custos no sistema de produção, o atendimento as reivindicações dos poderosos sindicatos, as outras unidades de negócios, como a Jaguar, que não apresentavam os resultados esperados, além do avanço dos concorrentes japoneses e coreanos com veículos mais arrojados e focados nas principais tendências mercadológicas e ambientais, tudo demonstrava conspirar contra a empresa. Com a gravidade da crise econômica, ocasionada pela falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de A retirada de cerca de 10 bilhões de dólares de suas linhas de financiamento, tiveram como objetivo reforçar o caixa e recusar a ajuda do Governo com o uso de dinheiro público. A Ford ganhou a admiração de milhões de pessoas ao redor do mundo por ser a única montadora a recusar o socorro de 17 bilhões de dólares, retirados do pacote de 700 bilhões de dólares de estímulo financeiro aprovado em outubro de 2008. A família Ford é dona de apenas 5% de um tipo particular de ações, nos Estados Unidos, o suficiente para que o controle continue sob os descendentes do fundador que foram os principais responsáveis em proporcionar esperanças de tempos melhores a montadora e aos seus milhares de empregados diretos e indiretos, incluindo fornecedores. Os familiares se uniram e, sem a presença de conflitos, agiram com profissionalismo e sabedoria. Conseguiram implantar um complexo plano de reestruturação dos negócios e dos bens da família. Venderam iates e mansões em diversos balneários nos Estados Unidos e na Europa para compensar os dividendos de mais de 40 milhões de dólares que recusaram a receber. Receitas foram obtidas de diversas fontes. A Ford hipotecou todo o seu patrimônio obtendo 25 bilhões de dólares. Vendeu a Land Rover e a Jaguar por quase 3 bilhões de dólares. Conseguiu obter empréstimos em torno de 24 bilhões de dólares de instituições financeiras privadas. Para poder prosseguir com o plano, ainda precisou efetuar demissões, fechar fábricas e reduzir os benefícios dos executivos. Com mais problemas, longe de serem solucionados, pelas concorrentes, e o recall de 9 milhões de veículos que a Toyota está enfrentando em todo o mundo, também foram fatores determinantes para impulsionar o crescimento da Ford. William Clay Ford Jr., presidente do conselho de administração, e Alan Mulally, presidente mundial, determinaram o fim de 97 modelos de carro, concentrando os esforços em somente 20. Definitivamente a Ford conseguiu um feito, até então impossível de ser alcançado por uma montadora americana, afastar a percepção de que os carros asiáticos, sobretudo os japoneses, serem os melhores e arrematou diversos prêmios, de revistas especializadas, pelos novos carros desenvolvidos. Em conjunto com a Microsoft, a Ford desenvolveu o Sync, uma tecnologia que permite ao motorista falar ao telefone e acessar as configurações do carro, como rádio e temperatura do ar-condicionado, sem tirar as mãos do volante, superando o OnStar, da concorrente GM, se tornando o estopim de uma revolução tecnológica que está redefinindo toda a indústria automobilística, cada vez mais pressionada pela preservação do meio-ambiente e redução de gases tóxicos. Após um prejuízo, em 2009, de 14 bilhões de dólares, a Ford divulgou um lucro líquido de 2,1 bilhões de dólares, no primeiro trimestre de 2010, o maior desde 2004 no mercado americano e o maior desde 1977. No Brasil, foram anunciados investimentos de mais de 4 bilhões de reais entre 2011 e 2015. Tudo indica que, enquanto for uma empresa familiar, a Ford continuará entre as principais corporações e símbolo do poder econômico americano. Antonio Carlos Moraes Formado pela Fundação Getulio Vargas. Consultor de Empresas. |
sexta-feira, 30 de julho de 2010
FORD FAMILIAR
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