sexta-feira, 30 de julho de 2010

FORD FAMILIAR




FORD FAMILIAR
Diante de tantas notícias que assombraram as montadoras americanas, nos últimos tempos, intensificados pela crise financeira e pelo desenvolvimento sustentável, nos acostumamos a não perceber os seus pontos fortes, as suas vantagens competitivas e as suas competências essenciais. O melhor caso que reúne a prática destes três pilares é a americana Ford. 
O fundador desta empresa familiar, Henry Ford é considerado por diversas publicações especializadas o maior executivo do século XX (algumas escolheram Jack Welch, ex-presidente da General Electric). Foi o gestor que melhor aplicou a técnica do Estudo dos Tempos e Movimentos, tornando-se o grande responsável por mudanças de paradigmas e pela redefinição dos sistemas de produção em diversas indústrias da época e, passou a ser a referência para diversos trabalhadores que perceberam as vantagens de se trabalhar em uma empresa metódica e repetitiva, e com os maiores salários até então, mesmo que tivessem diante de si, um patrão cruel e disciplinado.
Algumas das diversas características do Fordismo, que é muito estudado em vários Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado), ainda são praticadas e presenciadas, facilmente, em pleno século XXI, em diversas organizações, desde setores mais novos de alta tecnologia, passando por biotecnologia até segmentos mais tradicionais, como os de manufatura.
Ao longo de décadas a Ford passou por momentos turbulentos. A forte concorrência com a líder no mercado americano, General Motors, e posteriormente com a nova detentora do posto, Toyota, os altos custos no sistema de produção, o atendimento as reivindicações dos poderosos sindicatos, as outras unidades de negócios, como a Jaguar, que não apresentavam os resultados esperados, além do avanço dos concorrentes japoneses e coreanos com veículos mais arrojados e focados nas principais tendências mercadológicas e ambientais, tudo demonstrava conspirar contra a empresa.
Com a gravidade da crise econômica, ocasionada pela falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, a Ford demonstrava estar predestinada ao fechamento de suas fábricas. Para os menos pessimistas, as notícias recebidas da divisão da Ford, no Brasil, ainda poderia ser um indício de uma provável reviravolta na matriz que registrava prejuízos por três anos consecutivos. Somente em 2008, o prejuízo foi de 15 bilhões de dólares, um recorde. Cortes de 1.200 empregos foram anunciados na unidade Ford Motor Credit.
A retirada de cerca de 10 bilhões de dólares de suas linhas de financiamento, tiveram como objetivo reforçar o caixa e recusar a ajuda do Governo com o uso de dinheiro público. A Ford ganhou a admiração de milhões de pessoas ao redor do mundo por ser a única montadora a recusar o socorro de 17 bilhões de dólares, retirados do pacote de 700 bilhões de dólares de estímulo financeiro aprovado em outubro de 2008.
A família Ford é dona de apenas 5% de um tipo particular de ações, nos Estados Unidos, o suficiente para que o controle continue sob os descendentes do fundador que foram os principais responsáveis em proporcionar esperanças de tempos melhores a montadora e aos seus milhares de empregados diretos e indiretos, incluindo fornecedores.
Os familiares se uniram e, sem a presença de conflitos, agiram com profissionalismo e sabedoria. Conseguiram implantar um complexo plano de reestruturação dos negócios e dos bens da família. Venderam iates e mansões em diversos balneários nos Estados Unidos e na Europa para compensar os dividendos de mais de 40 milhões de dólares que recusaram a receber.
Receitas foram obtidas de diversas fontes. A Ford hipotecou todo o seu patrimônio obtendo 25 bilhões de dólares. Vendeu a Land Rover e a Jaguar por quase 3 bilhões de dólares. Conseguiu obter empréstimos em torno de 24 bilhões de dólares de instituições financeiras privadas. Para poder prosseguir com o plano, ainda precisou efetuar demissões, fechar fábricas e reduzir os benefícios dos executivos.
Com mais problemas, longe de serem solucionados, pelas concorrentes, e o recall de 9 milhões de veículos que a Toyota está enfrentando em todo o mundo, também foram fatores determinantes para impulsionar o crescimento da Ford.
William Clay Ford Jr., presidente do conselho de administração, e Alan Mulally, presidente mundial, determinaram o fim de 97 modelos de carro, concentrando os esforços em somente 20. Definitivamente a Ford conseguiu um feito, até então impossível de ser alcançado por uma montadora americana, afastar a percepção de que os carros asiáticos, sobretudo os japoneses, serem os melhores e arrematou diversos prêmios, de revistas especializadas, pelos novos carros desenvolvidos.
Em conjunto com a Microsoft, a Ford desenvolveu o Sync, uma tecnologia que permite ao motorista falar ao telefone e acessar as configurações do carro, como rádio e temperatura do ar-condicionado, sem tirar as mãos do volante, superando o OnStar, da concorrente GM, se tornando o estopim de uma revolução tecnológica que está redefinindo toda a indústria automobilística, cada vez mais pressionada pela preservação do meio-ambiente e redução de gases tóxicos.
Após um prejuízo, em 2009, de 14 bilhões de dólares, a Ford divulgou um lucro líquido de 2,1 bilhões de dólares, no primeiro trimestre de 2010, o maior desde 2004 no mercado americano e o maior desde 1977. No Brasil, foram anunciados investimentos de mais de 4 bilhões de reais entre 2011 e 2015.
Tudo indica que, enquanto for uma empresa familiar, a Ford continuará entre as principais corporações e símbolo do poder econômico americano.
Antonio Carlos Moraes
Formado pela Fundação Getulio Vargas.
Consultor de Empresas.

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