sexta-feira, 23 de março de 2012

SAUDADES DE MIM


Estou com saudades de mim. Não sei o que sou e nem onde estou. Terei me perdido em alguma dobra do tempo? Afinal de contas, também é para isso que existem universos paralelos. Sou um fantasma, uma lembrança de mim. A lembrança é agradável. O presente, não.
Que coisa é essa que sou? Mas não era. Na verdade, era bem diferente. Diferente pra melhor, creio. Hoje não sou mais dono de nada. Sequer das minhas lembranças.
Onde está o rapaz audaz, o conquistador do mundo, o guerreiro viril? Foi-se. Perdeu-se nas Brumas de Avalon, suponho. Que sei eu das lendas do rei Arthur?
O tempo, esse implacável destruidor de tudo, esse ácido corrosivo do tempo e da vida, esse amigo fiel da morte cruel, ladrão da vida e de tudo o que há, aos poucos está levando para não sei onde o que sobrou de mim.
Na manhã da minha vida, subi a montanha e contemplei, poderoso, o mundo à minha volta. Hoje, quando a noite chega, estou no mais profundo de um vale não conhecido, e pouco vejo do tudo que existe, inclusive do que sobrou de mim.
Tenho saudades de mim. Mas sei que o que foi, nunca mais será. A tragédia é essa. Ao contrário do que acreditamos, nada é nosso, nada nos pertence. Tudo é apenas um empréstimo que nos foi concedido pelo tempo, esse velho usurário que cobra com juros extorsivos a juventude perdida.  O preço é alto. É o cansaço, a pele enrugada, músculos flácidos e uma enorme vontade de partir para a terra do nada. Lá, inconsciente do existir, não pensarei, não sentirei, nada serei. Talvez quem sabe, se tiver sorte, quando eu for apenas pó, uma um vendaval pode soprar o que restou de mim para as estrelas. Lá, bilhões de anos depois, poderei ser parte da luz que não faz sombras. Quem sabe nesse dia, poderei conhecer esse tesouro que muitos buscam e poucos encontram: a felicidade de apenas existir sem sentir essa dor maldita que há tanto tempo faz parte de mim.

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