quinta-feira, 25 de março de 2010

UM OLHAR SOBRE A VELHICE

A única opção para o envelhecer é o morrer. A frase pode até parecer dura, mas como negá-la? Um estranho fenômeno acontece neste fase ainda inicial do século XXI. O tempo de vida do ser humano sobre a superfície do planeta aumentou, porém, na mesma medida. o velho perdeu prestígio, importância e o respeito de que gozava, outrora. O mundo é jovem. Ou dos jovens, como preferirem.
Mas, a pergunta que ninguém quer responder é: qual opção resta a esse mesmo mundo, ou aos jovens, para que a velhice não os alcance, se a fonte da eterna juventude ainda não foi descoberta, muito embora alguns tentem, desesperadamente, adiar o momento fatal em que se descobrirão irremediavelmente velhos?
Houve um tempo em que os homens velhos e as velhas mulheres eram respeitados pela velhice em si, porque representavam um enorme acúmulo de sabedoria. O conselho dos anciãos prevaleceu em todas as culturas, em todos os cantos e recantos do planeta.
Cícero, o Velho, quem não o admirou? E Catão, também conhecido como o Velho. E Deus Todo Poderoso? Por que será que os homens insistem em representá-Lo sob a forma de um homem velho? Quando Moisés conduziu seu povo pelo deserto do Sinai, já tinha os cabelos embranquecidos pelas intempéries da vida. E Abraão e Noé, alguém lembra suas imagens sob a forma de formosos jovens? Zeus, o supremo deus da mitologia grega não era jovem.
Entre os grandes generais, só Alexandre, o Grande, é lembrado como jovem. Até porque morreu aos 32 anos, deixando um vasto império atrás de si. Temujim, o mongol conhecido como Gêngis Khan, varreu sob sua espada, tudo o que encontrou das estepes asiáticas até a Europa. Mas são exceções. Michelangelo de há muito já perdera o viço da juventude quando pintou a Capela Sistina. Entretanto, o mundo é jovem.
Ah! Pobres e desgraçados velhos do meu Brasil que já foi bem mais varonil. Ai dos velhos, bem poderia ter dito César, do alto da sua juventude. Entretanto, como viver sem eles, se eles somos nós amanhã? Essa é a grande questão. Que velhos deixaremos ao Brasil de amanhã? Ou pior, que tipo de velhos nos governam, hoje?
Velhos, sabe-se, existem de todos os tipos. Ve-lhos bons e velhos maus. Velhos honestos e velhos bandidos, velhos velhacos e velhos e conhecidos ladrões; velhos sábios e velhos idiotas.
Certa vez, dialongando com um jovem, enchi-me de ironia e ataquei:
- Juventude é um mal que desaparece com o tempo, lancei-lhe sobre o rosto, a frase cheia de bílis. Ao que ele respondeu, pleno de sabedoria:
- Jamais respeite um homem somente por seus cabelos brancos. Os canalhas também envelhecem.
Amargurado, olhei-me no espelho no espelho e vi cabelos brancos que na véspera não estavam lá. Hoje, sinto-me um pouco mais amargo por causa daquele jovem. Precisava ele lançar-me verdade tão dura? Claro que precisava. A crueldade é uma das características mais fortes da juventude. E por quê estou mais amargo? Porque olho para os velhos que nos dirigem. E todas as vezes que os olho, fico a pensar nas palavras daquele jovem tão prenhe de sabedoria: - Jamais respeite um homem apenas por seus cabelos brancos. Os canalhas também envelhecem.

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